Nos meus filmes eu sempre tento usar miniaturas no lugar de computação gráfica. Acho que as miniaturas tem uma certa magia, tanto na hora de fazer quanto na hora de assistir ao filme.

Mas, para as miniaturas funcionarem bem no cinema precisam despertar no público um sentimento que é chamado de “sensação de escala”. Isso acontece quando você olha pra uma miniatura, mas ela é tão bem feita e tão bem filmada que você compra a ideia de que está diante de um objeto gigantesco e nem percebe que se trata de uma miniatura.

Mas pra que a sensação de escala aconteça, é preciso respeitar alguns pontos na miniatura:
Ela precisa ser muito bem feita – é preciso ter uma atenção especial a detalhes, respeitando a proporção ao seu correspondente do mundo real. Uma porta, por exemplo, não é apenas um buraco na parede. É preciso ter marco, dobradiças, maçaneta, a textura da madeira, além de possíveis sinais de desgaste.

É preciso respeitar uma distância mínima – cada miniatura tem um limite até onde você pode se aproximar sem perder a ilusão. Quanto mais próximo, mais detalhada ela precisa ser, mas sempre tem um ponto a partir do qual você já consegue ver a textura do material e pequenas imperfeições, que acabam com a sensação de escala.

É preciso ter uma grande profundidade de campo – este é um dos pontos mais importantes e mais difíceis quando se trabalha com miniaturas. A profundidade de campo é a área da sua imagem que está em foco. Quando você aproxima a câmera muito de um objeto, a imagem tende a ficar com grandes áreas desfocadas e uma pequena parte em foco. Isso denuncia na hora que estamos diante de uma miniatura. É preciso ajustar o equipamento e a iluminação para que o objeto inteiro esteja em foco.

É preciso respeitar a velocidade de locomoção – quando um objeto muito grande se move distante de você (como um avião passando no céu), a sensação que dá é que ele está bem devagar. Por isso é muito comum filmar em câmera lenta miniaturas que se movem.
As miniaturas ainda apresentam alguns desafios de logística, porque elas podem quebrar, o material se desgasta se não for bem cuidada, muitas vezes são feitas com material sensível e as luzes fortes necessárias nas filmagens podem empenar e até derreter as miniaturas se não tomar cuidado.
Mas mesmo com todas estas questões, se você fizer o trabalho bem feito e souber enquadrar e filmar sua miniatura corretamente, você tem uma cena magnífica que vai sustentar a sensação de escala por décadas no seu filme.
A partir dos anos 90, com a popularização da computação gráfica, as miniaturas foram gradualmente sendo substituídas por versões digitais. Mas curiosamente, a miniatura em CG também tem que despertar a sensação de escala no público e com isso precisa seguir as mesmas regras. A diferença é que você não tem os mesmos problemas de logística: elas não se deterioram nem se quebram, desde que você faça um backup dos arquivos. A grande profundidade de campo também é facilmente conseguida na computação gráfica.
O problema da computação gráfica é que 100% da imagem precisa ser construída do zero pelo computador. Inclusive a luz e sombra são simulações. Com isso, é muito difícil atingir um nível de realismo necessário pra acontecer a sensação de escala. Assim, a computação gráfica acaba sendo mais exigente. Na computação gráfica não tem meio termo: ou é 100% perfeita ou todo mundo vai achar tosco.
Com isso, existe um outro fenômeno muito comum que é o amadurecimento do olhar do público. Uma imagem em computação gráfica que parece ultra realista hoje em dia, alguns anos depois pode parecer altamente falsa. Eu por exemplo, olho pro Avatar (2009) hoje em dia e parece que eu estou diante de uma cena de video-game. Em contra partida, o ataque à Estrela da Morte no Retorno de Jedi me convence até hoje, mais de 40 anos depois.

Um ótimo exemplo do uso inteligente da computação é o filme Jurassic Park: a grande maioria dos dinossauros são bonecos reais. Apenas 5 minutos de computação gráfica foi usada no filme todo. Eles sabiam exatamente onde usar e principalmente onde não usar porque tinham consciência das limitações da técnica. Por isso ele se sustenta muito bem até hoje, mais 30 anos depois da estreia.
Além de todas estas questões, a computação gráfica ainda gerou um efeito colateral: a diminuição da personalidade dos filmes, ao tornar tudo possível de forma relativamente fácil, desde que você tenha grana. Mas isso é assunto pra um outro post.
Por enquanto, eu posso dizer que prefiro as miniaturas, porque elas existem no mundo real. A luz, a sombra, a textura, já tá tudo lá e isso é pelo menos a metade do negócio. E é uma maneira de conseguir realismo quando não se tem muita grana pra produzir o filme.
Sem falar que trabalhar com miniaturas é sempre mais divertido do que ficar apertando zilhões de botões no computador.
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